... veredacto:
Gyula Derkovitz
Ela conversava com o mestre. Ele explicava-lhe a diferença entre um e outro conceito. Ela não entendia muito bem. Ele multiplicava-se em exemplos, mais ou menos eloquentes. Ela sentia que estava lá perto, mas faltava qualquer coisa para agarrar a compreensão. A diferença é tão subtil, dizia ela, que me escapa.
Isto passava-se numa esplanada. O mestre estava sentado a uma mesa com um grupo de amigos. Ela estava em pé dando a mão a uma criança do sexo masculino. Era Primavera. Vento suave. Calor do bom.
Este diálogo sobre a diferença entre os conceitos de
veredicto e de
veredacto prolongou-se bastante.
Recorda-se nitidamente de, em relação ao primeiro conceito, ele empregar as expressões: "sentença, julgamento, apreciação, decisão e resolução". Não se recorda de uma única em relação ao segundo. Sabe que ele usou muitas frases, descrições, imagens e metáforas, mas não se lembra de nenhuma. O mestre era um antigo aluno, um aluno brilhante que sabia sempre tudo acerca de tudo. A criança era o seu filho. Ela era ela, digo, eu.
Só entendi a diferença entre as palavras "veredicto" e "veredacto" quando acordei do sonho.
Um sonho muito eloquente:
Já chega de sentenças, julgamentos, apreciações, decisões e resoluções. É tempo de passar do dito ao... acto. Com "c".
Não sei se o meu corretor não aceitava o "veredacto" por ter um "c" a mais ou por achar que a palavra não existia. Quando alguém quer chatear, qualquer pretexto serve. Mas teve de aceitar o dito "veredacto" porque lhe dei ordem para o adicionar ao dicionário. Já está. Por decisão minha e veredacto meu. A partir de hoje passou a existir na língua mais uma palavra. Passei da palavra ao acto. Com "c". Deram-me força o menino e o jovem. Arquétipos de acção. Com dois "cc".