EULÁLIA: A "Boa palavra" ou O QUE ARTE CURA

EULÁLIA: A "Boa palavra" ou O QUE ARTE CURA
Divulgação de um caminho: A Escrita Cura Criativa

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Reabilitando o mestre







Este, o auto-retrato de Bertolt Brecht, quase tão pessimista (outros chamar-lhe-iam realista) como o de Bocage: "Já Bocage não sou...".


DO POBRE B. B.



Eu, Bertolt Brecht, venho da Floresta Negra.


Minha mãe, quando ainda andava no seu ventre,


Levou-me para a cidade. E o frio da floresta


Estará dentro de mim até que na morte eu entre.



Nas cidades de asfalto estou em casa. Desde o início


Abastecido com os últimos sacramentos:


Jornais, tabaco e aguardente.


Desconfiado, contente e preguiçoso até ao fim.



Sou gentil com as pessoas. Uso


um chapéu de coco porque é costume andar assim.


Eu digo: estes animais têm um cheiro estranho.


E digo: isso não importa, eu também tenho.



Pelas manhãs, na minha cadeira de balouço


Uma mulher ou outra às vezes faço sentar


E observando-a calmamente lhe digo:


Em mim você não deve, você não pode confiar.



À noite, alguns homens reúnem-se à minha volta


E entre nós “gentlemen” é o tratamento vigente.


Colocam os pés sobre minha mesa


E dizem: tudo vai melhorar. E eu não pergunto: – quando ?




Na luz cinzenta da aurora mijam os pinheiros,


E seus parasitas, os pássaros, começam a gritar.


Por esta hora na cidade eu esvazio o meu copo,


Deito fora o charuto e vou dormir, inquieto.



Geração leviana, vamos viendo em casas


Que acreditávamos indestrutíveis. (Assim


Construímos caixotes na ilha de Manhattan


E as antenas compridas que conversam por cima do Atlântico. )



Dessas cidades, o que restará? O vento que por elas passa!


A casa faz o hóspede alegre, este esvazia-a.


Sabemos que somos provisórios e que depois de nós


Nada virá que valha a pena mencionar.



Nos terremotos do futuro eu espero


Não abandonar os meus charutos, nem achá-los amargos.


Eu, Bertolt Brecht, que fui trazido às cidades de asfalto,


vindo da floresta negra, no ventre de minha mãe, anos atrás.






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Mas... as mães têm um olhar colorido de rosa amor elevado. Podemos imaginar-nos aquela mãe que o trouxe no seu ventre até às cidades. A mãe não o veria assim, mas talvez desta outra maneira.


Poderia ser este o retrato do filho, feito pela sua mãe:















DO NASCIMENTO DE UMA ESTRELA:











Tu, Bertolt Brecht, trazido da Floresta Negra.


Por mim, tua mãe, quando inda andavas no meu ventre,


para a cidade. O verde da floresta


Estará dentro de ti até que o sol te eleve junto aos cumes.





Nas cidades de asfalto também estás em casa. Desde o início


Abastecido com os sagrados sacramentos:


amor, glória, inocência.


Derramado em fé, contente e talentoso até ao fim.





Gentil com as pessoas. Usas


um chapéu de rei porque é teu direito.


Eu digo: estas pessoas um dia acordarão.


E digo: e verão meu filho sentado sobre o sol.





Pelas manhãs, na minha cadeira de balouço


Uma mulher ou outra às vezes faço sentar


E observando-a calmamente lhe digo:


O melhor que te desejo é que tenhas um filho como o meu.





À noite, alguns homens reúnem-se à minha volta


E entre nós amor e vénia é o tratamento vigente.


Colocam-se aos meus pés como sempre fazem


E dizem: honrada serás tu entre as mulheres por seres sua mãe.









Na luz dourada do crepúsculo respiram os pinheiros,


E seus habitantes, os pássaros, começam a cantar.


Por esta hora na cidade eu esvazio o meu chá,


Fecho a janela ao pôr-do-sol e vou dormir no meu trono de mãe.





Geração de mim, vamos alicerçando as casas


Construímos crenças indestrutíveis. (Como altares


Na ilha de Manhattan


E as antenas suspensas por anjos acima do Atlântico. )





Nessas cidades, quem habitará? A tua voz que por elas passa!


A casa faz o hóspede alegre, tu conferes-lhe uma alma.


Sabemos que somos grandes e que depois de nós


Apenas a tua memória, meu filho.





Nos paraísos do futuro eu espero


Ver teu nome inscrito nos portais, e achá-los belos.


Por ti, Bertolt Brecht, trazido às cidades de asfalto para as elevar,


Vindo da floresta negra, no ventre de tua mãe, anos atrás.






(Adaptação por RCPP)


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Como cheguei aqui, alguns dados:

Licenciada em Literatura Românica, lecionou em várias escolas de Lisboa, nomeadamente nos últimos 14 anos da sua carreira na Escola Secundária Artística António Arroio.

Foi orientadora de estágio pedagógico (Português/Literatura) durante dez anos em várias escolas.

Desde 1994 começou a publicar romance, novela e conto (cerca de 17 publicações, até hoje) , de que destaca: A Criança Suspensa, Prémio Ferreira de Castro e O Aniversário, Prémio Revelação APE/IPBL.

Foi também premiada na poesia pela Sociedade de Língua Portuguesa.

Tem escrito artigos sobre outras artes, crónica, teatro, canção, ópera, cantata e musical e para dança. Colaboração com os compositores Paulo Brandão, Jorge Salgueiro e Amalgama Companhia de Dança.

Orientou escrita criativa na Associação Agostinho da Silva e tem conduzido workshops nesta área no festival internacional UnityGate, pontes entre o Oriente (a partir de Macau) e o Ocidente organizado pela Amalgama.

Na sequência de cerca de vários anos de aprofundamento em “Rebirthing”, fez formação nesta área na Escola Luso-Brasileira Marinélia Leal, e vem exercendo esta terapia desde 2011.

Fez ainda formações com: Leonard Orr, Bob Mandel, Fanny Van Laere e Sondra Ray.

Em 2014 fez formação em TACA com Bob Mandel.

Concebeu, criou e coordena o Curso “Cuidar” a funcionar na ESMTC, onde leciona as disciplinas de “Rebirthing e uma nova disciplina totalmente inédita :“Escrita Cura Criativa” que alia a sua vertente de curadora com a sua experiência de professora de literatura e escritora. Leciona duas das oito áreas de que se compõe o curso.

Com os seus alunos (na escola e nos cursos que vem ministrando) veio espontaneamente a apurar a sua experiência e prática de ensino da Escrita numa perspetiva ao mesmo tempo Criativa e Curativa, num formato absolutamente inédito e original em que as suas vertentes de terapeuta, escritora e professora estão presentes.

Fez ainda formações em outras áreas terapêuticas, diferentes, mas complementares:

Lise Bourbeau (Écoute ton corps), Rowland Barkley (As 12 fitas do DNA), Maria Flávia Monsaraz (1º ano de Astrologia do Quiron), Paulo Guerra (Astrologia Cármica), Jornadas de Medicina e Espiritualidade, Isabel Ferreira (Um curso em Milagres), Luísa Sousa Martins (Zen-shiatsu), Wong Kiew Kit e Deolinda Fernandes (Qi-Gong).

Em 2011 concluiu os Seminários I, II e III em Cura Reconectiva e Reconexão com o Dr Eric Pearl, sendo terapeuta certificada em cura Reconectiva e Reconexão.

Mantém um blogue literário:

http://aluzdascasas.blogspot.com/

outro de divulgação terapêutica:

http://diz-mecomonasceste.blogspot.com/

e ainda um site:

http://risoletacpintopedro.wix.com/risoletacpintopedro